Aprendemos muito cedo em nossas vidas que devemos ser pessoas boas, amar, respeitar, dividir e principalmente perdoar.Raiva, ódio e rancor não são sentimentos aceitáveis. Para a religião é pecado e para a sociedade é falta de controle e amor no coração.

Mas se são sentimentos como não sentir? Impossível. Quando um colega de trabalho te prejudica evitando que seu projeto seja bem visto e aceito você sente amor ou raiva por ele? Provavelmente raiva. Mas quando chegar em casa e compartilhar sua indignação com alguém da família, ouvirá: Deixa pra lá, não é bom sentir raiva, não faz bem. Você tem que perdoar. Logo você diz que perdoa, mas na verdade continua com o sentimento de injustiça e raiva e agora também com o de culpa. Afinal, como você pode ter sentimentos tão criticados e inaceitáveis?

É comum ouvirmos casos de pessoas que desenvolvem doenças e dores sem causas físicas, ou seja, as doenças psicossomáticas que tem origem emocional. Por exemplo, uma dor muito forte no estômago, mas sem nenhuma lesão física para explicar a dor.

Geralmente nesses casos os médicos instruem o paciente a procurar um psicólogo, quando se descobre que a pessoa desenvolveu uma doença psicossomática devido a alguma questão emocional com a qual não soube lidar. Entre os vários motivos para o desenvolvimento dessa doença um deles pode ser alguma situação que envolva a raiva, ódio, culpa e/ou perdão.

Isso significa que esses sentimentos realmente não fazem bem e não devem ser sentidos, certo? Errado.

Isso significa que esses sentimentos não devem ser cultivados. As pessoas devem se permitir sentir o que é tão condenado por todos, mas sabendo discriminar o que odeio e o que aceito. Por exemplo, gosto muito daquele colega de trabalho que é companheiro e colabora para termos um bom ambiente de trabalho, mas tenho raiva por ele ter me prejudicado em meu desenvolvimento profissional. Vivenciando a raiva e o ódio é que se pode perceber que não é preciso carregar isso para o resto da vida nem acreditar que não se dará bem em nenhum trabalho, afinal sempre terá alguém para prejudicá-lo. A culpa não precisará existir, pois esses sentimentos não são crimes, são apenas uma defesa e sinal de uma boa autoestima.

Mas ao contrário do que muitos pensam, saber lidar com a situação ocorrida e distinguir o que gosto e o que não gosto em determinada pessoa, o que aceito, respeito e o que não me faz bem não significa que houve o perdão.Perdoar é fazer com que o ato cometido contra você não lhe faça mais nenhum mal. Que sua vida não seja vivida em função de uma certeza de que isso sempre voltará a acontecer ou eternamente em busca de justiça. No perdão não cabe culpa por sentir raiva.

Assim, perdoar não é um ato fácil e muitas vezes o que fazemos é aprender a lidar com a situação vivenciada, aceitar todos os sentimentos dessa experiência, entender que viveremos com ela para sempre, mas sem o foco no que nos machucou e que nem sempre o perdão acontecerá.