Quem nunca contou uma mentirinha que atire a primeira pedra.

Seja pra escapar de uma bronca dos pais, para conseguir alguma coisa ou até mesmo ao atender ao telefone dizer que uma pessoa não está justamente para não dizer a verdade, que a pessoa não quer falar, o fato é que sempre contamos alguma mentira e que este ato geralmente não é bem visto e aceito pelas pessoas, pois temos a sensação de que aquele que mente não é confiável.

Porém, a mentira como adaptação social, como o exemplo da mentira no telefone é aceita, pois muitas vezes é melhor dizer que a pessoa não está do que dizer que não quer falar com quem telefonou. Já quando ela passa a ser um distúrbio de comportamento podemos ter um caso de mitomania, ou seja, a tendência patológica mais ou menos voluntária e consciente para a mentira.

Você deve estar confuso e se perguntando: e agora pode ou não pode mentir? Mentir é normal ou uma doença?

Vou explicar. Quem nunca teve um amigo ou colega, que te fez desconfiar de que alguns pontos em suas histórias não se encaixam? Alguém que conta ter viajado pelo mundo e estudado em colégios caros durante a adolescência, mas que depois descobrimos uma história de vida bastante humilde.

Outro exemplo é de uma criança que mesmo tendo um pai violento e pouco presente pode contar para os colegas que sua relação com ele é divertida e amorosa, que fazem muitos passeios prazerosos juntos e são muito amigos.

Esses dois últimos casos podem exemplificar a diferença entre uma adaptação social de mentira como a do telefone e a de um mitômano.

Devemos compreender que dizer a verdade passa a ser um sofrimento para quem tem mitomania, pois o objetivo do mitômano não é mentir para prejudicar o outro, mas para conseguir algo para si mesmo, que geralmente está relacionado à necessidade de suprir aquilo que falta em sua vida, ou seja, ele não mente sobre tudo. Ele mente sobre um ponto específico, de onde vem seu problema, da origem dos seus conflitos.

Mais um exemplo para diferenciarmos o mitômano de uma pessoa que faz para prejudicar o outro, é o de um homem com dificuldade de relacionamentos interpessoais que conta para os amigos e familiares que sempre tem encontros muito prazerosos com as mulheres. Já em outros pontos de sua vida ele não mente, e ser honesto quanto a questões financeiras e de trabalho é muito fácil.

Manter uma mentira é muito difícil e desgastante, em algum momento ela passa a ser descoberta e com isso começam a aparecer os maiores riscos para o mitômano, como o isolamento social e o descrédito diante dos círculos familiar, de trabalho, de amigos e assim por diante. Esse isolamento pode causar depressão, ansiedade e outras patologias que passam a ser perigosas para o mitômano.
O mitômano pode estar sofrendo com as consequências de suas mentiras, mas geralmente não buscará ajuda sozinho, pois mesmo sabendo que o que ele diz não é totalmente verdadeiro, ele precisa acreditar que seja para manter um equilíbrio interior. Contando histórias ele se sente tranquilizado e com suas carências supridas.

Por outro lado, deixar de mentir também tem uma consequência muito sofrida para ele e é por isso que muitas vezes é a família quem procura ajuda para o mitômano, uma vez que estes já descobriram algumas mentiras. Além da procura por ajuda, a família ocupa outro papel essencial no tratamento do mitômano, uma vez que este precisa sentir-se acolhido e entendido pelas pessoas que o cerca. A esta cabe ainda à compreensão de que o fato da pessoa estar sendo ajudada e em tratamento, não significa que as mentiras não voltarão a acontecer. Ela poderá se repetir durante e principalmente no início do tratamento, uma vez que a pessoa ainda estará em processo de autoconhecimento.

A cura da mitomania pode ser alcançada com o trabalho psicoterápico, quando o paciente poderá entrar em contato com as questões que lhe causaram a necessidade de mentir e a partir daí construir o fortalecimento da sua estrutura psicológica e a adaptação ao mundo sem a necessidade anteriormente predominante. O trabalho conjunto com a psiquiatria também pode ser necessário, pois como vimos, um dos grandes perigos da mitomania são suas consequências, como a ansiedade excessiva para manter suas mentiras, por exemplo. Assim, o uso de medicamentos pode ser indispensável.

Outro ponto importante a ser considerado é que o fato da pessoa ser boa em contar mentiras, não significa que se tornará um mitômano, pois se ela tiver uma boa estrutura mental saberá manter-se saudável.
Por mais difícil que seja aceitarmos mentiras de pessoas queridas, é mais importante estendermos as mãos e oferecermos ajuda ao mitômano, do que atiramos pedras.