Para discorrer sobre esse assunto, que frequentemente aparece no consultório, me apoiei no livro O ciclo da auto-sabotagem de Stanley Rosner e Patrícia Hermes.

Muitas vezes gostaríamos de mudar, criar, aprender, crescer, utilizar o potencial que sentimos existir dentro de nós, para quem sabe podermos responder a uma pergunta, aparentemente, simples: quem sou eu? Mas existem pessoas que além de não conseguir enfrentar esses desafios, acreditam que não seria correto, pois a única maneira correta de ser e agir é seguindo os passos de outra pessoa.

Assim, pessoas crescem acreditando que elogios não são necessários, pois tirar boas notas na escola quando criança não era um mérito, mas apenas uma obrigação, outros acreditam que não podem crescer e serem bons profissionais e se destacarem em sua vida profissional, pessoal, afetiva, pois cresceram ouvindo que não eram tão bons assim. Quem nunca se viu agindo ou pensando de alguma forma idêntica ou parecida com a que viveu na infância?

Se forem questionadas sobre sua forma de agir, certamente essas pessoas responderão que essa é a maneira correta, é familiar e já sabem como fazer, afinal sabemos que a mudança e o desconhecido não são tão fáceis de serem encarados.

Outro fator importante é que a criança necessita de identificação e exemplos para se desenvolverem. O problema é que alguns pais comunicam ao filho que sua forma de ser e pensar é superior e correta. Porém quando a criança cresce, percebe que outras famílias agem de forma diferente, mas como confrontar pensamentos com pais tão dominadores e controladores?

Diante do desejo de receber o amor dos pais, a criança opta pela identificação absoluta com esses. E em uma eterna busca por esse amor a criança se torna um adulto reprodutor dos pensamentos e ações dos pais. Mesmo que estejam sofrendo, a mudança desse ciclo de repetição é difícil, pois acreditam que a maneira como se comportam é correta e apropriada. Então porque mudar?

Eis, que diante de algum sofrimento causado por um motivo externo como o trabalho ou um relacionamento amoroso, mas nunca pelo motivo que causou essa repetição em sua vida e dificuldade de mudar, a pessoa procura ajuda psicológica, quando então é questionado quanto ao seu passado. Mas por que o passado se o que causa o sofrimento é cotidiano?

Quando enterramos o passado traumático, tendemos a revivê-lo várias vezes, tentando inconscientemente dominar aqueles eventos incontroláveis. Portanto, a finalidade de mexer no passado é a de ajudar a pessoa a se tornar livre, com controle da própria vida. Fazer com que o passado chegue à consciência.

E é durante o processo terapêutico que o paciente começa a entender o real motivo da sua forma de agir, primeiramente com uma compreensão racional, que provavelmente não trará mudanças, mas quando chegar à compreensão emocional de como vivenciou os acontecimentos em sua vida o processo de mudança se iniciará.

Quando o conhecimento chega à consciência é que podemos mudar, mas apenas se for internalizado, sentido e elaborado. A mudança e a consciência estão intrinsecamente ligadas.

Assim, a mudança interna pode começar a ocorrer, com a pessoa perdendo o medo e a insegurança de poder responder a pergunta: quem sou eu?, sem ter que se identificar e reproduzir modelos interiorizados como única verdade.